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Saquê envelhecido em caves nas montanhas de Tochigi

Atualizado: 20 de ago. de 2022

Comum para vinhos, a técnica ainda é pouco difundida no universo dos fermentados japoneses


Garrafas de saquê na cave da Shimazaki (foto: Roberto Maxwell)

Localizada ao norte de Tóquio, a província de Tochigi ainda é pouco explorada pelos viajantes estrangeiros. Com exceção de Nikko, cidade que é repleta de templos e santuários tombados pela UNESCO, a região montanhosa raramente entra nos roteiros de quem visita o Japão. É uma pena. Tochigi tem muitas localidades que merecem ser conhecidas e tem a vantagem de não ficar muito distante de Tóquio.


Nasukarasuyama é um exemplo. A cidade de menos de 20 mil habitantes fica a cerca de 2 horas da capital japonesa. Além da produção do papel washi e das belezas naturais, Nasukarasuyama também é conhecida pela Shimazaki, uma fábrica de saquê pioneira no envelhecimento deste fermentado tipicamente japonês.


Normalmente, o saquê é produzido entre o final do outono e o início da primavera. Depois de extraída, a bebida pode ser ou não diluída e, em seguida, é colocada para descansar em garrafas ou tanques. Esse período de descanso é, em média, de um ano. Como princípio, quanto mais jovem o saquê, mais afinado será o seu sabor.


Acontece que, nas últimas décadas, alguns produtores iniciaram uma série de testes de envelhecimento de saquê e muitos deles estão chegando a resultados que têm agradado ao público. O saquê envelhecido é chamado de koshu. As técnicas e a duração do processo varia de produtor para produtor. Mas, de um modo geral, os resultados são bem parecidos. O saquê vai ganhando uma cor âmbar com o envelhecimento, além de notas de sabor e aroma que podem lembrar caramelo, mel, castanhas e shoyu.


Herança da guerra

Foi em 1970 que a Shimazaki iniciou o projeto de envelhecimento de saquês. A empresa decidiu aproveitar uma caverna que foi escavada nas montanhas de Karasuyama durante a Segunda Guerra Mundial para criar a sua cave. Ali, estão armazenadas, a uma temperatura constante de 10 graus, mais de 100 mil garrafas de saquê. A cave é aberta à visitação do público e uma visita ideal inclui, ainda, a degustação das bebidas no charmoso espaço dedicado a este fim, na fábrica que fica a uns dois quilômetros de distância.


Saquês envelhecidos da Shimazaki (foto: Roberto Maxwell)

Como a cave fica distante do centro da cidade, a dica é circular de bicicleta, que pode ser alugada no Yamaage Kaikan, um espaço dedicado ao festival tradicional da cidade, o Yamaage, que é realizado anualmente no quatro fim de semana de julho. Colorido e teatral, o evento é tombado com Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.


Sob duas rodas, é possível adicionar na rota outros pontos de interesse como as Quedas de Ryumon, uma pequena e charmosa cachoeira de 20 metros de altura e 65 de largura. Duas cavernas ficam no paredão de pedras da queda d'água. Diz a lenda que ali vive um dragão que atende aos pedidos dos visitantes. (Aliás, o nome da cachoeira pode ser traduzido como "portal do dragão".)


Ao lado das quedas fica um pequeno café com iguarias locais e um santuário com um dragão enorme, para o qual você pode fazer suas preces. Além disso, o andar superior do prédio fica tem observatório com uma boa vista da cachoeira. Na área, não deixe de visitar, também, o Taiheiji, um templo budista com cara de abandonado e com um portal de madeira imponente.


Quedas de Ryumon vistas do café (foto: Roberto Maxwell)


Degustação

Para não beber de estômago vazio, a indicação dos locais é o Kamameshi Kasai, um restaurante especializado no kamameshi, um prato de arroz cozido e servido numa panela de aço chamada de kama. Os acompanhamentos vão de frutos do mar a legumes e verduras da estação, muitos deles colhidos na própria região.


Depois do almoço e antes da degustação, pode ser uma boa ideia dar uma olhada no Washi Kaikan, um espaço criado para a preservação de técnicas artesanais, incluindo a produção de papel. Com reserva, aliás, é possível aprender a fazer o washi, o delicado papel japonês.


Para a degustação dos saquês envelhecidos, e de outros produtos, a Shimazaki recebe os visitantes na fábrica que fica próxima ao centro da cidade. Neste caso, é importante lembrar que é proibido pedalar depois de beber. Por isso, vale a pena devolver a bicicleta antes da degustação. O Yamaage Kaikan não fica muito longe da fábrica.


Fundada em 1849, a Shimazaki recebe seus visitantes em um prédio de dois andares, todo de madeira. A loja fica no primeiro andar e é possível ver a variedade da produção que inclui licores como o yuzushu, que lembra um limoncello. O yuzu é um cítrico adorado pelos japoneses e a província de Tochigi, uma grande produtora da fruta.



Degustação de saquês envelhecidos na fábrica da Shimazaki (foto: Roberto Maxwell)

A elegante sala de degustação fica no segundo andar e inclui um pequeno jardim. Aqui, o visitante é recebido pelo Shimazaki Ken'ichi, a sexta geração de produtores da empresa. Simpático, ele prepara uma degustação em quatro passos, acompanhada de um tira-gosto da casa: um cream cheese com borras de saquê, também disponível para compra.


Provar os saquês em diferentes estágios de maturação é uma experiência interessante e mostra que, mesmo pouco conhecida, a produção de koshu tem um pontencial enorme de trazer novos adeptos para o universo do saquê, bebida que ganha cada vez mais adeptos fora do Japão.


Roberto Maxwell viajou a convite da Nearby Tokyo e da Sake Voyage.


 

SERVIÇO

Como chegar?

Embarque na Linha Tohoku do trem-bala Shinkansen até Utsunomiya, de onde se faz a transferência para a linha de trens locais Karasuyama. Desembarque no ponto final, Karasuyama.


Yamaage Kaikan

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Kanai 2-5-26 [mapa]

Funciona das 9 às 16 horas, com a locação de bicicletas e as exposições e loja


Quedas de Ryumon + café

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Taki 414 [mapa]

O café funciona de 9 às 16 horas


Kamameshi Kasai

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Asahi 1-8-24 [mapa]

Funciona das 11:30 às 14:30 e das 16:30 às 21 horas


Washi Kaikan

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Chuo 2-6-8 [mapa]

Funciona das 9 às 18 horas (fechado às terças-feiras)

entrada franca

www.fukudawashi.co.jp (em japonês)


Shimazaki Shuzo - cave

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Kanaga Asatenjin 149 [mapa]

A visita à cave é realizada aos sábados, domingos e feriados, entre março e dezembro, e em algumas datas de janeiro e fevereiro, das 10 às 16 horas

¥200 (visita guiada com tablet em inglês ou japonês)

azumarikishi.co.jp (em inglês e japonês)


Shimazaki Shuzo - fábrica

Tochigi-ken Nasukarasuyama-shi Chuo 1-11-18 [mapa]

Funciona das 9 às 17 horas

A experiência de degustação pode ser agendada através do site da Nearby Tokyo




95 visualizações1 comentário

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1 comentário


Ruth Queiroz
Ruth Queiroz
03 de ago. de 2022

Muito interessante a história da escavação de cavernas, no tempo da Guerra.

Um arraso de matéria

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