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Foto do escritorMirela Mazzola

Projeto homenageia japonesas que lutaram contra a opressão no fim do século 19

Atualizado: 26 de jul. de 2023

Parceria entre a a Komorebi Translations e a Japas Cervejaria inclui pôster, wallpaper para celular e uma pequena biografia de mulheres que ergueram a voz contra o sistema patriarcal que vigorava no Japão durante a Era Meiji



Primeiro pôster divulgado pelo projeto Content Collab (crédito: Reprodução/Japas Cervejaria)


Você sabe quem foi Higuchi Ichiyô, a mulher retratada na nota de 5000 ienes? Se não, está ao lado da maioria das pessoas que acompanha o perfil da intérprete, tradutora e economista Anna Ligia Pozzetti, da empresa Komorebi Translations (@komorebitranslations). "Fiz uma enquete para descobrir se sabiam quem ela era. Entre 160 respostas, mais de 80% disseram que não", conta. Vale lembrar que, por se tratar de um perfil sobre língua e cultura japonesa, a maioria dos seguidores, em tese, tem algum interesse ou conhecimento sobre o país.


O fato inspirou Anna a criar algo para divulgar a história de mulheres japonesas que lutaram contra opressões sociais durante o início da Era Meiji (1867-1912), dando origem ao Content Collab - Mulheres Marcantes da História do Japão. O projeto colaborativo entre a Komorebi Translations e a Japas Cervejaria, das nipo-brasileiras Maíra Kimura, Fernanda Ueno e Yumi Shimada, inicialmente irá retratar três mulheres: Higuchi Ichiyô (1872-1896), que era escritora, Toshiko Kishida (1863-1901), ativista considerada uma das primeiras feministas do Japão, e a feminista e educadora Fukuda Hideko (1865-1927). O conteúdo inclui as artes de um pôster em alta resolução, a versão para wallpaper de celular (ambos com download gratuito) e uma minibiografia, também com acesso liberado, no site da cervejaria e no perfil da Komorebi no Instagram. O material também está disponível em inglês.


Em um primeiro momento, conta Anna, a ideia era contratar Yumi, que é designer, para executar o projeto gráfico de forma remunerada. "Mas ela embarcou na ideia por ser um tema importante para as meninas da Japas também. A sintonia foi imediata", diz Anna. Ou seja, o que era para ser uma contratação se transformou em colaboração e que, segundo a intérprete, pode render novas histórias de mulheres no futuro.


"No Brasil, nossa formação é eurocêntrica e com poucas referências à história da Ásia. Isso leva a ideias bastante estereotipadas, inclusive em relação às figuras femininas", diz. Período de grandes transformações socioeconômicas e que marca a reabertura do Japão após mais de dois séculos de isolamento, a Era Meiji foi o objeto de estudo de Anna no mestrado em História Econômica pela Unicamp. "O papel das mulheres nesse momento me fascina, pois diz muito sobre o machismo e patriarcado no Japão atual. Às vezes somos muito taxativos em relação à situação da mulher japonesa, mas é preciso entender como isso se configurou lá atrás", defende.


Ela aborda o tema no curso "Do tradicional ao moderno: um breve panorama histórico do Japão das eras Edo e Meiji" ministrado por duas edições na plataforma Momonoki – o último slide, aliás, retrata Higuchi Ichiyô na cédula de 5000 ienes.



(Crédito: Reprodução)


Considerada uma das maiores escritoras da literatura japonesa, ela denunciou mazelas sociais e destacou em seus textos a situação degradante às quais as mulheres eram submetidas, como a miséria e a exploração sexual. Dona de uma retórica impecável, Toshiko Kishida, por sua vez, percorreu o país discursando em prol da igualdade de direitos entre os gêneros e chegou a ser presa por isso. Já a educadora Fukuda Hideko fundou três escolas ao longo de sua vida e, como única mulher no movimento anti-imperialista, foi presa por defender a libertação da Coreia do domínio sino-japonês.


"O passado não foi feito de mulheres alienadas ou que não sabiam o que estava acontecendo fora do Japão", completa Anna. O projeto, segundo ela, tem "formato pop", se referindo às peças de arte e aos textos compactos, mas a ideia é que seja apenas uma porta de entrada para o interesse sobre mulheres asiáticas que questionaram a realidade e lutaram contra a opressão.


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1 Comment


Ruth Queiroz
Ruth Queiroz
Sep 12, 2021

Amei o texto.

Importante ver que a Toshiko Kishida foi mais um nome nessa luta feminista. Um rosto conhecido e uma história "ignorada" por muitos, mas uma luta que nao foi em vão. Como amante da literatura vou ali correndo procurar texto dela.🙏🏾


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