Desconhecidos de boa parte dos turistas, os passes regionais trazem economia e destinos fora da rota para quem quer realmente explorar o Japão
Viajar de trem, incluindo o velocíssimo Shinkansen, está nos planos de todo turista que vem ao Japão. Por isso, o anúncio de que o Grupo JR pretende elevar os preços do JR Pass colocou turistas e a indústria em polvorosa. No dia 14 de abril, o conglomerado soltou a notícia de que o passe ferroviário que oferece descontos excepcionais vai ficar mais caro. O aumento – em média, de 70% – começa a valer a partir de outubro, em data ainda não definida e apavorou os internautas.
O motivo oficial do reajuste não foi divulgado, mas fala-se de coisas como a defasagem do preço do passe, uma barganha em comparação com outros países e com o valor das tarifas cobrados normalmente. Há também quem acredite que o Japão esteja promovendo uma seleção de turistas com base no poder aquisitivo ou que o país planeje um contra-ataque a um problema que já vem afetando cidades como Kyoto: o overturismo.
Seja qual for a intenção, a mudança afeta os turistas, em especial aqueles que planejaram a viagem com antecedência, contando com o JR Pass. Por isso, a TOKYO AIJO oferece três alternativas de passes regionais para quem quer gastar menos com os deslocamentos de trem e, de quebra, sair da rota batida.
O que é o JR Pass?
Para quem não conhece, o JR Pass é um tíquete que permite o uso quase ilimitado da rede ferroviária do Grupo JR em todo o país por um período determinado de tempo. Com o passe é possível embarcar em trens do tipo bala, expressos limitados, expressos locais, rápidos e paradores. Ele só está disponível para pessoas com visto de curta duração e pode ser adquirido no próprio país de residência do viajante, através de agências de turismo, ou após a chegada ao Japão. Também existe um site oficial que vende o passe online. Neste último caso, o bilhete é mais caro, embora seja possível fazer reservas antecipadas via internet, o que ajuda no planejamento.
O choque com os aumentos de preços vem do fato de que o JR Pass proporciona uma grande economia. Atualmente, pagando cerca de 220 dólares pelo passe, é possível viajar de norte a sul do país por 7 dias usando trens confortáveis e pontuais. Só em termos de comparação, uma viagem entre Tóquio e Kyoto usando o trem-bala sai por quase 100 dólares. Somente a ida e a volta neste trajeto que paga quase que a totalidade do custo do passe. Por isso, o JR Pass é amado pelos turistas e uma ferramenta poderosa para quem pretende visitar o Japão. O aumento dos preços, portanto, tem alto potencial de frustar os planos de qualquer viagem, certo? Errado.
Passes regionais, a alternativa
Passes regionais já existiam antes mas, nos últimos anos, o Grupo JR vem criando novas opções. Alguns deles, inclusive, não são limitados a turistas e podem ser utilizados também por estrangeiros residentes. Os principais passes têm como ponto de partida as grandes metrópoles de Tóquio e Osaka e oferecem opções de viagem para regiões ainda pouco visitadas por turistas mas que, sim, deveriam estar na lista de qualquer pessoa com tempo de se aventurar pelo país. Seguem algumas dicas de passes que podem funcionar bem como substitutos do JR Pass.
Hokuriku Arch Pass
Hokuriku é a região japonesa que engloba a província de Ishikawa cuja capital, Kanazawa, é uma cidade que vem recebendo cada vez mais turistas internacionais. O "arco" do nome se refere à rota em forma de parábola que tem como pontas Tóquio e Osaka, com Nara e Kyoto como paradas possíveis. Sendo assim, este pode ser o bilhete mais adequado para os principais órfãos do JR Pass.
Com o passe, é possível usar o trem-bala Shinkansen da linha Hokuriku entre Tóquio e Kanazawa. A partir daí, a viagem pode ser de trem local ou de expresso limitado Thunderbird até a estação de Osaka. Nas áreas metropolitanas de Tóquio e Kansai (Osaka, Kobe e Kyoto), as viagens podem ser feitas em quaisquer trens, com exceção do Shinkansen. O passe pode ser usado por 7 dias consecutivos e, dependendo do roteiro, pode ser ativado já na chegada, desde que nos Aeroportos de Narita ou Kansai.
área: zonas metropolitanas de Tóquio e Kansai e toda a extensão da Linha Hokuriku do Shinkansen e da linha troncal Hokuriku entre Kanazawa e Osaka. preço: ¥24.500 (adultos, fora do Japão), ¥25.500 (adultos, dentro do Japão)
duração: 7 dias consecutivos
como fazer valer a pena: além das viagens de longa distância, usar o passe extensivamente para visitar locais no entorno das áreas centrais e dentro das grandes cidades.
JR East Pass (área de Tohoku)
Uma das regiões mais belas do Japão, infelizmente Tohoku é negligenciada pelos turistas brasileiros e este passe, quem sabe, pode fazer muita gente mudar de ideia. Por menos de 2oo dólares é possível visitar as zonas tombadas como Patrimônio da Humanidade em Hiraizumi; uma das três mais belas vistas do país, em Matsushima; os monstros de gelo em Zao; o misterioso vale dos mortos de Osorezan, dentre outras localidades totalmente fora da rota.
O ponto de partida é Tóquio e é possível embarcar nos trens-balas das linhas Tohoku, Yamagata e Akita, e nas linhas do Grupo JR em toda a região nordeste do Japão. Dependendo do roteiro, pode-se, inclusive, visitar Nikko e encerrar a viagem já no aeroporto de Narita ou de Haneda. Com um pouco mais de tempo e disposição, dá para esticar até Odawara – porta de entrada para Hakone – ou Otsuki, de onde se pode embarcar num trem local – não incluído – e ver o Monte Fuji em Kawaguchiko. O passe se estende, ainda, até Atami e Izu, duas belíssimas zonas costeiras a poucas horas de distância de Tóquio.
Além de ser um dos bilhetes regionais com maior área de cobertura, o JR East Pass ainda tem outra vantagem: ele pode ser usado também por estrangeiros residentes no Japão. Existe, ainda, uma versão do JR East Pass para as regiões de Nagano e Niigata, com a mesma validade, mas um pouco mais barata.
área: toda a região de Tohoku, no nordeste japonês, além da zona metropolitana de Tóquio e o entorno, incluindo Atami e Izu; além de parte da província de Yamanashi preço: ¥20 mil (adultos), com aumento previsto para ¥30 mil a partir de outubro
duração: 5 dias consecutivos
como fazer valer a pena: difícil é não fazer o passe valer a pena já que, com ele, é possível ir até o extremo norte da ilha principal do arquipélago japonês. Só a viagem de ida e volta entre Tóquio e Shin-aomori, no fim da linha Tohoku do Shinkansen, custa quase que o dobro do valor do bilhete.
JR West All Area Pass
Partindo de Kyoto ou Osaka, muitos turistas avançavam até Hiroshima, um ponto de grande atração de visitantes internacionais. Sem o JR Pass, essa viagem pode ser feita com este bilhete regional. Aliás, com este JR West All Area, é possível fazer uma parada em Okayama para um passeio na ilha de arte de Naoshima. Rumo ao sudeste, o passe inclui ainda as províncias de Kyoto, Shiga, Ishikawa e Toyama.
Quem quiser se aventurar por áreas pouco exploradas podem escolher as províncias de Tottori e Shimane, no lado do Mar do Japão. São áreas com muitas belezas naturais e acessíveis via trens expressos. Outra província a se adicionar nessa lista é Yamaguchi. Com o trem-bala Shinkansen da linha Sanyo, é possível ir de Osaka até Fukuoka, a porta de entrada da ilha de Kyushu, o limite a oeste deste passe. Aliás, aqui também pode ser um porto de saída do Japão para quem está com planos de visitar a Coreia do Sul. De Fukuoka parte uma barca para Busan, já na península coreana.
O passe inclui, ainda, o uso de algumas linhas de ônibus, como o Super Express Hagi, entre as estações de Higashi-hagi e Shin-yamaguchi, áreas de relevância história e natural, fora da rota de grande parte dos turistas estrangeiros. Por fim, a barca que leva da estação de Miyajima-guchi até a ilha de Miyajima também está incluída no JR West All Area Pass.
área: o sudoeste da ilha de Honshu, partindo da linha Hokuriku, na estação de Joetsu Myoko, até a região de Kansai e Kinki, incluindo a conexão com a ilha de Kyushu e finalizando na estação de Hakata, em Fukuoka
preço: ¥23 mil (através de agência de turismo), ¥25 mil (pelo site oficial), com aumento previsto para ¥26 mil a partir de outubro
duração: 7 dias consecutivos
como fazer valer a pena: outro passe que é difícil de não valer a pena. Somente o trajeto entre Kyoto e Hakata custa mais da metade do valor do passe. Então, se a sua intenção é ir e voltar, o bilhete já está pago. Se o uso começar em Kyoto e incluir uma ida a Izumo, em Shimane, paradas em Hiroshima e Okayama e, de lá, a ida até Fukuoka para explorar Kyushu, o passe se paga, mesmo sem contar com os deslocamentos locais.