Apaixonada por arquitetura, influenciadora Piti Koshimura lista os seus prédios preferidos na Terra do Sol Nascente
Quando tinha uns sete anos, a professora da escola pediu para que fizéssemos um desenho do que queríamos ser quando fôssemos “gente grande". Não tive dúvidas: desenhei a planta de uma casa e disse que queria ser arquiteta. Já nessa idade, adorava ver folhetos de ofertas imobiliárias e me imaginava perambulando pelas maquetes de apartamentos. A vida acabou me levando para outros rumos profissionais, mas nunca deixei de me encantar com essa arte que molda a nossa forma de viver.
E já que outro assunto pelo qual tenho verdadeira paixão é o Japão, a arquitetura japonesa é, certamente, algo que me fascina. A arquitetura diz muito do pensamento nipônico e acaba sendo uma ótima ferramenta para entender a cultura do país. Por isso, em meio a descobertas turísticas, gastronômicas, artísticas e culturais, sempre reservo um tempo para conhecer obras de arquitetos japoneses.
Fazer uma lista com cinco obras de destaque é dificílimo num país que, junto com os Estados Unidos, encabeça a lista de maior número de arquitetos ganhadores do Pritzker, o reconhecimento máximo da categoria em nível mundial. Desde a primeira edição do prêmio, em 1979, já foram oito japoneses laureados — e com nomes como Sou Fujimoto e Kengo Kuma trabalhando fervorosamente, tenho certeza de que os prêmios não vão parar por aí.
Decidi escolher projetos que me surpreenderam na visita. Talvez algumas das obras da lista não correspondam às escolhas dos profissionais da área (mesmo com todo o amor pelo assunto, continuo sendo leiga), mas todas me fizeram arregalar os olhos e pensar sobre a importância e influência da arquitetura em nossa forma de encarar a vida.
Vamos à lista!
Chichu Art Museum, Tadao Ando
Kagawa-ken, Kagawa-gun, Naoshima-chō, 34491 [mapa]
Talvez esta seja a escolha mais óbvia para incluir nesta lista. Mas, convenhamos, trata-se de um trabalho primoroso do Tadao Ando, que resolveu aterrar o espaço expositivo para que a natureza fosse minimamente impactada. Mesmo embaixo da terra, a construção é tão iluminada por dentro que, por si só, já se torna uma grande atração. Como se não bastasse, porém, o museu abriga obras interessantíssimas de Walter de Maria, Monet e James Turrell. É, na minha opinião, a atração mais interessante de Naoshima.
St. Mary Cathedral, Kenzo Tange
Tōkyō-to, Bunkyō-ku, Sekiguchi, 3-16-15 [mapa]
(foto de abertura da reportagem por Piti Koshimura)
Olhando por fora, ela é uma construção, diríamos, inusitada. Ainda mais no meio de Sekiguchi, um bairro residencial próximo à Universidade de Waseda. O conjunto de telhado e paredes formado por “hipérboles” de placas de aço inoxidável reflete a luz do sol e indica que o interior deve ser, no mínimo, interessante.
Que nada! Por dentro, a catedral é de tirar o fôlego, com suas paredes pesadas em concreto fazendo contraste com a luz que natural que entra pelos vitrais, estrategicamente posicionados. A falta de acabamento das paredes nos remete à filosofia japonesa wabisabi, que ressalta a beleza das coisas imperfeitas, incompletas e que, inevitavelmente, sofrerão mudanças com a passagem do tempo. Impossível não se sentir impactado pela energia que circula em seu interior.
Yoshino Cedar House - Go Hasegawa
Nara-ken, Yoshino-gun, Yoshino, Iigai, 624 [mapa]
Um empresário investe em arquitetura contemporânea para tentar revitalizar uma pacata cidade, cuja população diminui ano a ano. Parece que estamos falando de Naoshima, mas a ideia se repete (ainda bem!) em outro lugar.
A casa projetada por Go Hasegawa faz parte de um projeto inicial do Joe Gebbia, um dos fundadores do Airbnb, de criar novos rumos para a economia compartilhada, estimulando o contato de turistas com os locais.
Ela foi inteiramente construída com madeira extraída na própria cidade e impressiona pelo minimalismo de seu design e preza por algo que estamos deixando de lado: o contato com a natureza, com pessoas e, de uma forma geral, o apreço pelas coisas simples da vida.
Enoura Observatory - Hiroshi Sugimoto, Odawara
Kanagawa-ken Odawara-shi Enoura 362-1 {mapa}
“Uau!” é o mínimo que este lugar vai arrancar da sua boca. Este complexo de frente para o mar que mescla galeria de arte, mirantes e estruturas típicas japonesas foi inteiramente projetado por Hiroshi Sugimoto, artista japonês mais conhecido pelo seu trabalho como fotógrafo.
Como arquiteto, no entanto, ele não deve nada. Sua sensibilidade artística é notória em todas as estruturas, o que nos leva não só a apreciar as construções em si, mas também a entrar em reflexões profundas sobre o tempo, a natureza e as artes.
D.T. Suzuki Museum - Yoshio Taniguchi
Ishikawa-ken Kanazawa-shi Hondamachi 3-4-20 {mapa}
Quando falamos de arquitetura em Kanazawa, as atenções caem invariavelmente sobre o 21st Century Museum of Contemporary Art, do aclamadíssimo escritório SANAA. Mas este pequeno museu construído em homenagem ao filósofo zen Suzuki Daisetsu Kan, conhecido no exterior como D.T. Suzuki, merece uma boa dose de atenção e de tempo de quem visita a charmosa cidade.
Por mais que obras do autor e materiais explicativos fiquem à disposição para consulta, é a arquitetura do museu que abraça a missão de transmitir valores da filosofia zen aos visitantes. Passar algum tempo no espaço contemplativo, apreciando o espelho d’água, é um convite à meditação e à reconexão consigo mesmo.
Piti Koshimura é produtora de conteúdo e autora do blog Peach no Japão. Busca inspiração em artes, conversas e imersões culturais no país de origem de seus avós.
Tem tanta paz nessas imagens!!!
Nossa, amei!!!
Maravilhoso 🥹