Lago Okutama, cercado por montanhas/imagem: Photo AC
refúgio
FUGA PARA AS MONTANHAS
A selva de pedra é a cara mais conhecida da megalópole. Mas existe uma Tóquio com natureza exuberante, perfeita para um refúgio do calor
texto e fotos: Bruna Zapata
colaborou: Roberto Maxwell
O verão em Tóquio, e em boa parte do Japão, é marcado por altas temperaturas e umidade, levando a sensação térmica à casa dos 40°C. Nessa época, o canto das cigarras anuncia o que está por vir: as férias escolares, o feriado de Obon (o "dia de finados"), os festivais de rua e os hanabi, fogos de artifício cujos festivais acabaram cancelados nos últimos anos por causa da pandemia.
Essa Tóquio, no entanto, divide espaço com outra menos frenética e mais próxima da natureza. Uma dessas regiões é Okutama, município no extremo oeste da região metropolitana. A partir de Shinjuku, bairro considerado o centro administrativo da megalópole, o trajeto até Okutama leva entre 1h30 e 2h de trem. Não há muitos horários, mas aos fins de semana um trem direto leva até a região no horário da manhã (1.100 ienes). Outras possibilidades incluem fazer algumas baldeações pelo caminho. Pela janela do vagão é possível acompanhar como, aos poucos, a área extremamente urbanizada fica para trás e vai cedendo espaço para zonas residenciais, cidades-dormitório e, enfim, montanhas, sinalizando que o destino final da viagem se aproxima.
Trem da linha Chuo na região de Okutama
Okutama é a última cidade na parte oeste de Tóquio e faz divisa com as províncias de Saitama e Yamanashi, dividindo com ambas a área do Parque Nacional Chichibu-Tama-Kai. Mais de 90% do território do município é constituído por montanhas. Como consequência, trata-se de uma região pouco povoada – são cerca de 5.000 habitantes na cidade – e de natureza bem-preservada.
Já ao desembarcar do trem, o ar puro e fresco dá as boas-vindas e é possível sentir a diferença entre Okutama e a região central da megalópole.
Afora a baixa densidade demográfica, a conservação do entorno se explica pela importância da represa Ogouchi no fornecimento de água potável para Tóquio. Concluída em 1957, a barragem é responsável pela formação do Lago Okutama, parada obrigatória em qualquer passeio à área. Abaixo dela, o caudaloso Rio Tama segue por 138 quilômetros na direção leste rumo à Baía de Tóquio.
Roteiro flexível
Okutama é um destino bem adaptável. Você pode fazer um bate e volta ou passar um fim de semana ou feriado prolongado. É possível se aventurar na montanha ou no rio, seja em trilhas (a pé e de bicicleta), pesca e esportes aquáticos, como stand-up paddle, caiaque, rafting e canoagem – além de descansar nas águas límpidas do próprio rio. Empresas como a Canyons oferecem locação de equipamento para as atividades. Os guias falam inglês – alguns, inclusive, são estrangeiros.
Essa versatilidade também aparece no quesito hospedagem. Acampar é uma opção, bem como pernoitar em chalés e ryokan, a tradicional pousada japonesa. A Hikawa é a mais popular dentre as áreas de acampamento e fica a cerca de 10 minutos a pé da estação de Okutama. Localizado bem no leito do Rio Tama, o espaço comporta um bom número de barracas e custa apenas 1.500 ienes por pessoa a diária. Quem não quiser pernoitar na barraca pode usar os bangalôs ou alojamentos adjacentes. Estacionamento de veículos também está disponível nas redondezas.
Antigas construções na beira do rio, integradas ao entorno
Caminhos sagrados
O lago artificial Okutama é cercado por montanhas e paisagens cuja beleza muda conforme a estação. No inverno, a neve cobre as montanhas; na primavera, as cerejeiras pintam a paisagem de rosa; no verão, é a vez do verde ocupar o lugar; e, no outono, os tons avermelhados e amarelados se sobressaem. Um dos pontos de maior visitação é o Santuário Ogouchi, acessível por uma pequena trilha montanha acima. Cercada de floresta, a rota oferece também uma bela vista do lago e faz a alegria de quem não dispensa o shinrin-yoku, o banho de verde, muito apreciado pelos japoneses. A região do lago é acessada de ônibus partindo da estação de Okutama.
Caminho para uma das trilhas nas margens do lago
Outra parada que faz sucesso entre os turistas é o Monte Mitake, com 929 metros de altitude, localizado a poucos metros da estação de mesmo nome. O Monte Mitake pode ser uma ótima caminhada para iniciantes, mas guarda também trilhas longas e levemente íngremes para os mais aventureiros. Uma opção é pegar um ônibus que sai da frente da estação e leva até Takimoto, onde se pode embarcar no Mitake Tozan Railway, uma linha de funicular que sobe a montanha até 831 metros de altitude. A viagem leva cerca de 6 minutos.
Da estação no alto da montanha são aproximadamente 30 minutos a pé até o Santuário Musashi Mitake, construído há mais de 2.100 anos. Por ser uma antiga rota de peregrinação, há vários restaurantes, lojas, pousadas e uma vila de moradores. Muitos visitam o santuário para pedir um parto sem complicações, ajuda para criar bem os filhos e um bom casamento.
Santuário Musashi Mitake: proteção à família
Há diversos lugares considerados sagrados na montanha, como a trilha Rock Garden – o nome se deve aos musgos que tomam conta do cenário, tornando a região incrivelmente verde. Nessa trilha fica a cachoeira Ayahiro, também considerada sagrada, onde ocorrem as cerimônias de purificação do santuário. Partindo do Monte Mitake, há trilhas que levam a outras montanhas, como ao Monte Otake (a 1.266 metros) e ao Monte Hinode (a 902 metros). Para essas rotas mais longas, não deixe de levar comida e bebida suficientes.
Alimento para o corpo
No quesito gastronomia, aliás, Okutama não deixa a desejar. Há vários restaurantes à margem do Rio Tama, além de áreas para churrasco e pesca, bastante populares entre os visitantes.
O soba, um macarrão de trigo sarraceno, é uma especialidade da área. Para provar o prato escolhi o Kiriyama, um tradicional restaurante perto da estação Mitake, bem de frente para o rio. No espaço em estilo japonês, com uma linda vista, é possível provar o soba com legumes e verduras da montanha. Outra opção é o tendon, uma tigela de arroz servida com tempurá no topo.
Macarrão de trigo sarraceno soba: refeição nas montanhas
Seja depois da trilha, dos esportes radicais ou de apenas contemplar a região, essa refeição é capaz de renovar as energias. Sem falar do frescor da montanha, inigualável para recarregar as baterias de quem precisa voltar para a selva de pedra.
Serviço
CANYONS
Tokyo-to Nishitama-gun Okutama-cho Kawai 54-1
atividades a partir de 4.000 ienes
canyons.jp (reservas em japonês e inglês)
HIKAWA CAMP SITE
Tokyo-to Nishitama-gun Okutama-cho Hikawa 702
diárias a partir de 1.500 ienes por pessoa
okutamas.co.jp (em japonês)
MITAKE TOZAN RAILWAY
Tokyo-to Ome-shi Mitake 2 - estação Takimoto
600 ienes (uma viagem), 1.130 ienes (ida e volta)
mitaketozan.co.jp (em japonês e inglês)
BRUNA ZAPATA é professora e mora há quase 4 anos em Tóquio. O tema de seu mestrado foi a escola no Japão. Apaixonada pela natureza, usa o seu tempo livre para acampar pelo país.